' Agora que fizeste uma clicadela, apoveita e dá uma espreitadela ; ) #




sexta-feira, 26 de março de 2010



Notícias da época 1910
Tendo como tema do nosso projecto "O Humor Satírico dos Cartoons na 1ª República Portuguesa", no primeiro período dirigimo-nos ao Arquivo Distrital de Braga. De maneira a obter um conhecimento mais aprofundado sobre este tema recolhemos as notícias e cartoons correspondentes a este período (1910-1926).

Entre os jornais consultados ("O Mundo" e o "Comércio do Minho") selecionámos as seguintes noticias e cartoons:
"O mundo" -  4º trimestre 1910  - 6 Outubro 1910
Pela república e pela pátria
      Cantemos! A nação portuguesa escreveu ontem uma página gloriosa na sua história. Libertou-se, emancipou-se! A monarquia era, pelas suas feições opressiva e desmoralizadora, uma vergonha para este belo e doce povo de Portugal! Anos e anos, combateu o povo para se governar por si. Combateu como generoso, quase como santo. Tentou persuadir, procurou convencer. Ao argumento respondeu a monarquia com a violência, a tradição. Não houve prova que a convencesse. O partido republicano fez uma revolução sem armas, como foi o das últimas eleições, e a monarquia insistia em governar contra ela. A revolução pelas armas foi-se tornando cada vez mais inevitável e imperiosa. Mas a nação republicana, ate nesse extremo, foi, como sempre, honrada. A monarquia, se tivesse forças para esmagar a revolução republicana seria cruel, como cruéis chegaram a ser algumas das suas forças. A revolução republicana foi generosa ate onde podia sê-lo. Se o matou, não foi por prazer. Foi por necessidade. Vitoriosa, a monarquia expandiria odiosos. Triunfante, a república limitou-se a expandir alegria.
      A república tem de seguir as tradições do Partido Republicano e a orientação que assinalou na hora do triunfo. A república não pode olhar descuidada para a sua defesa. Se houver loucos que sonhem em tentar contra a sua existência ou seja em contrariar a vontade nacional - a tentativa tem de ser repelida com pronta energia. A república tem de defender-se, e saber defender-se, para o bem do país que quer servir. Mas tem de impor-se, e a de inspirar-se nos princípios de ordem, liberdade e de tolerância que apostolizou. Nessa hora de ébria alegria, empanada apenas pela recordação dos mortos, sobretudo dos nossos mortos, os republicanos portugueses, essa grande massa que constitui o povo, a nação, tem que saber, como sempre, honrar os altos ideiais que lhe deram força moral e material para a formidável vitoria ontem levada a termo. Nem dormir o sono solto sobre os louros de glória, nem abusar dela para excessos. A república está feita em condições que nenhum facto, nenhuma forca pode abala-la. Quando um povo recebe uma forma de governo com o louco entusiasmo com que ontem foram acolhidas as novas instituições essa forma de governo consolidou-se imponderavelmente. Sem embargo, é necessário que nada ou ninguém impeça o seu regular funcionamento. E é necessário que todos demonstrem que a república é para os portugueses, antes de mais nada, uma forma de governo onde o povo tem a justa noção dos seus direitos e dos seus deveres.
      Cantemos! Cantemos a republica e com ella a liberdade e a justiça! Cantemos à nossa pátria, mão de exército e o povo que sabem danificá-la! Glorifiquemos essa rutilante aurora que surgiu para a vida portuguesa. Não há mais privilégios de raça que desohram os que os reconhecem. Não há mais actos de despotismo que deprimem. Não mais roubos envergonham. Não mais imoralidades que degradam. A nação da nação e para a nação, do povo e para o povo. A igualdade, a liberdade e a moralidade. O povo emancipado o povo soberano. Temos motivos para cantar. Temos o direito e o dever de faze-lo. De escravos convertemo-nos em homens. Deixamos de ser súbditos para ser cidadão. Levantamo-nos subimos, engrandecemos – nos. Soem, por isso, triunfais e festivos, os hinos que podem traduzir a nossa alegria. Erga-se bem alto e bem ardente o grito que traduz a vossa vitória.
- VIVA A REPUBLICA!
      MAS DEFENDAMOS E HONREMOS ESSA REPUBLICA. Não sejamos imprevidentes nem imprudentes. Não deixemos perder posições, mas mostremos, por todas as formas, que somos dignos deles. Assim poderemos gritar cada vez mais orgulho e mais desvanecimento: - VIVA A REPUBLICA! Assim edificaremos uma grande república digna dessa grande pátria VIVA A REPUBLICA! VIVA A PATRIA!


Terça-feira 12 de Julho de 1910  -  PORTUGAL LÀ FORA - Monarchia ou… republica

O que diz um jornalista francês:

       Portugal atravessa ao que parece uma crise muito grave, e devem passar se em Lisboa acontecimentos de uma grandeza capital.
       Que acontecimentos? Não é fácil sabe-lo, porque uma censura severa e hábil não deixa transpirar; os telegramas das agencias e dos jornais não reflectem nas entres linhas senão uma luz imprecisa.
       Falou-se da precisão de numerosas personalidades portuguesas comprometidas. Falou-se da abdicação do jovem rei Manuel a favor de Afonso de Bragança. Finalmente, a acreditar outra versão, a família real estaria preocupada com instantes necessidades de dinheiro.
        A juventude do soberano conciliou-lhe ao princípio a simpatia geral e a sua evidente boa vontade desarmou por um momento as reivindicações populares. Mas a opinião pública depressa revirou, e hoje a exasperação parece ser unânime contra uma dinastia que se afigura desacreditada de uma maneira definitiva.
        A causa desse reviramento filia-se simplesmente no enorme escândalo produzido pelo lerach do credito predial português. Abriu-se um inquérito jurídico, em virtude do qual os livros da contabilidade da companhia foram apreendidos e o seu funcionamento suspenso. Entre as pessoas comprometidas … deve-se destacar em primeira linha o próprio governador do credito predial, o senhor Luciano de Castro, que é o chefe do partido progressista, o protector e o tutor politico do jovem monarcha.
       Imagine-se que autoridade isto pode dar ao governo!
       Enquanto as câmaras estavam fechadas, pôde-se evitar o escândalo, mas ao reabrir-se a tempestade rebentou. …
       A crise iniciada toma pois proporções consideráveis. O partido Monarchico oposto ao senhor Castro serás assás forte, assás energético para salvar Manuel? …
       Proclamar-se-ha amanha a famosa republica portuguesa que á tanto tempo que se anuncia?
       Entretanto o partido republicano… acaba de fazer uma comunicação oficial á Presse Associée a fim de informar o estrangeiro «sobre a verdadeira situação de Portugal».
      Segundo esse documento … a situação de Portugal do ponto de vista politico constituiria uma excepção entre as mãos europeias, porque enquanto entre ellas o problema da forma de governo está, para assim dizer, afastado, em Portugal se encontra na ordem do dia e mais o estará em consequência dos últimos e graves acontecimentos que ali se estão desenrolando.
        Em Portugal afirma o documento referido, existe realmente uma crise monarchica … Ninguém ousará contestar que a Monarchia está abertamente em falência.
       O partido republicano inúmera também no seu manifesto as causas de crise Monarchica: a impopularidade da dinastia … , a sua indiferença em face dos interesses nacionais, a ameaça contra as garantias constitucionais, … um rei ignorante e inexperiente sofrendo a influencia de uma camarilha reaccionária e clerical etc, etc.
         Entretanto, Portugal num país com tantas condições naturais e de trabalho favoráveis com um povo tão fácil de governar…

E o manifesto do partido republicano conclue assim:
« a republica! Esta ex a única solução do problema politico português!...
Amanda pelo pais, a republica portuguesa gosará da simpatia de todas as potencias estrangeiras»


















Terça-feira, 5 de Abril de 1910 - Ano X




- Santo Padre, tenho roubado muitos milhões.
- Isso é mau, meu velho, muito mau. Irás para o Inferno.
-Mas eu dei alguns milhões à igreja.
-Bem; então…irás para o paraíso.
 De «L’Asino»

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



"O Mundo" 3º trimestre - Domingo, 10 de Julho de 1910
                                     Numero: 3481
                           Título: Táctica do “Mundo”

Os nossos processos sempre contra a monarchia-provas.
…. A nossa táctica é procurar conquistar liberdades mesmo dentro da monarquia? “ O Mundo” julga sentir a república pagmando pelos princípios liberais. “O Mundo” entende do seu dever fazer reclamações daquelle género, que estão a dentro da orientação do partido que desde annos reclama de lei eleitoral, e que, ainda recentemente resolveu empreender uma campanha contra o juízo de instrução criminal…
      Mas, reclamando actos liberais dos governos quando elles os prometem, não cuidamos apenas de provocar esses actos; Cuidamos também de os por à prova, cuidamos de ter argumentos, de ter factos, de ter autoridade para lhes gritar que são uns burlões.




Biografias de personalidades relevantes da época